domingo, 20 de novembro de 2011

Linhas paralelas

Esta semana me deparei com um episódio de total abuso do direito de um pai (ou mãe) intervir na vida de um filho.

Isso me fez levantar uma questão: até onde os pais podem ir em nome do amor e do melhor para seus filhos? E como reconhecer o quanto deve ir recuando a sua participação em cada fase? Reconheço que é uma questão muito complexa, e também muito subjetiva, já que cada pessoa tem necessidades diferentes. Mas, em geral, os pais comentem abusos em nome desse amor.

Tudo já começa errado na infância. Os pais dão demais. Amor demais, mimo demais, vontades demais para suprir provavelmente a própria falta de tempo. E com isso dão educação de menos e estrutura de menos. Quando os filhos crescem, a coisa muda de figura. É a hora de quererem tirar toda a liberdade oferecida na infância, controlar todos os passos, tirar alguns direitos, controlar através de laços materiais. Afinal, já que não criaram desde cedo o vínculo de respeito que faria valer a sua palavra, têm que usar tais artifícios.

Então os filhos começam a atingir a idade adulta, e começam as dificuldades para lidar com as diferenças de opiniões e com o choque de gerações. Como o respeito mútuo nunca foi o alicerce da família, como os filhos sempre foram manipulados a partir de outras maneiras, o diálogo vai se tornando inviável, impraticável, e os laços de amor, tão frágeis na relação, não conseguem sustentá-la por muito mais tempo.

O que é difícil para os pais entenderem é que esta é a hora de deixarem ir. Tendo ou não razão, doendo ou não, chega uma hora em que os filhos deixam de ser filhos apenas, e passam a ser pessoas. E pessoas precisam de seu próprio espaço, de sua própria vida, de seus próprios erros e aprendizados. A hora de caprichar passou. Muitos pais da atualidade, por notarem suas falhas, desesperam-se e desrespeitam a liberdade de escolha dos filhos, alguns chegando a desenvolver uma obsessão por manter o controle de tudo. Chega uma hora em que o jeito é confiar na educação e na índole e ver o que vai acontecer. Isso é amar de verdade, e não querer manter o filho para si.

Quanto aos filhos: por tanto terem sido mimados, muito acabam se acomodando na situação. Levam os conflitos além do que podem ser levados e forçam a barra para que as coisas passem a funcionar do seu jeito e não mais do jeito dos pais. A eles, também só um recado: quem não sabe respeitar não merece ser respeitado. Quando o estilo de vida inteiro não serve mais para você, é hora de procurar o seu próprio espaço e viver a sua própria vida. É hora de cortar o cordão umbilical.

Parece tudo muito complicado, mas é simples, isso eu posso prometer! :)



"Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objetos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A se olharem...
Pensar talvez:
“Paralelos que se encontram no infinito...”
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas."
Pablo Neruda


É isso.

9 comentários:

Sandro Ataliba disse...

E aí, chega a hora de termos nossos próprios filhos, e cometeremos nossos próprios erros. :p
Amo!

Luna Sanchez disse...

O que mais se vê são pais delegando suas funções de pais a outras pessoas e ocupando papéis de amigos nas vidas dos filhos. Acho lamentável isso.

Beijo, beijo.

Gisley Scott disse...

Tenho um caso de família assim. A mãe nunca colocou moral no filho e agora mesmo depois de casado ele quer que ela viva em função dele. Ridículo.Fica colocando a mãe em situações desagradáveis e comparando a mãe com a sogra, o que é pior!

Só se lembra da mãe qdo quer um favor.Ela finalmente está se impondo,mas o cara é quase um bully e age como se os outros tivessem errado ao invés dele!

Vou te contar, que coliseu viu?!?!

Bjos!

Jay disse...

é uma situação que requer mto cuidado. minha mãe foi uma pessoa que nos ensinou limites, mas sendo 3 criados da mesma forma ainda assim somos diferentes na dosagem desse limite.
eu acho as vezes que criação tb é uma espécie de loteria...

Unknown disse...

Criar nossos filhos deve ser a coisa mais complexa desse mundo... É preciso muito cuidado e sensibilidade... Vixi, pra mim comentar sobre isso já é difícil, imagine praticar rsrs
Abraço

Almir Albuquerque disse...

Oi Thaís,

Essa é mesmo uma situação complexa, e eu acho que a única solução é se criar uma escola de pais (rs).

Eu vou fugir um pouco do assunto central pra desabafar uma questão que eu tenho visto muito por aqui na Zona Oeste: são pais extremamente grossos, violentos, desamorosos com seus próprios filhos, como se estes fossem estorvos em suas vidas e não resultado de um planejamento (estou querendo muito né?)

Outro dia eu tive que bater boca com uma na rua, que estava quase arrancando o braço da filha de uns 5, 6 anos, e perguntando aos berros por que ela não parava de chorar. Fui chamar a atenção dela, e ela me devolveu uma resposta que eu não posso sequer publicar aqui...

Várias vezes eu presencio violência gratuita de mães (acredite, sempre são as mães) para com seus filhos, e me dá uma tristeza muito grande de ver a que ponto de miséria humana nós somos capazes de chegar.

Desculpe fugir um pouco do assunto, mas eu tinha que dizer essas coisas.

Grande abraço.

Thaís Alves disse...

Almir,

vc nem está fugindo do assunto, apenas mostrando mais um lado desta complicada relação. Talvez seja fácil demais eu falar sem ter ainda a experiência de criar um filho, mas tem coisas que eu não consigo entender como ser humano, sabe?

Este episódio que você acabou de narrar, infelizmente não é nada raro, e é um fenômeno que se abate principalmente nas classes menos favorecidas.

Agora eu me pergunto: se o Governo dá camisinha, dá anticoncepcional, porque esse povo sem a menor estrutura financeira e emocional continua tendo filhos para maltratar ou deixar à própria sorte?

Como eu disse: tem coisas que eu sou ser humano demais para entender!

Beijos!!!

Almir Albuquerque disse...

Eu acho que esse é um dos maiores enigmas da humanidade... Hoje em dia dá para ter relações sexuais sem ter grandes riscos de gravidez, então por que cargas d'água esses jovens continuam colocando crianças indesejadas nesse mundo?

É foda (literalmente)

Grande beijo e uma boa semana.

Anônimo disse...

Não sei se entendi errado, mas esse post me pareceu meio filosófico.
O que a gente mais encontra por aí são pessoas que foram criadas da forma errado e acabam perturbando a nossa simples vidinha.
Me identifiquei com algumas coisas e acho até que vou seguir os conselhos.. ;)


Beijo, beijo