quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pessoas Perfeitas

Por favor, preciso de todos agindo igual a mim: fazendo questão de não ser igual a ninguém.

Sempre falo aqui das grandes vantagens da nossa vida no campo, mas ontem, enquanto voltava do trabalho e escutava uma conversa (balançando a cabeça para não abrir a boca), me deu vontade de levantar aqui um dos pontos negativos para ser tema de discussão. Uma das coisas que se tornou muito mais evidente para mim depois que viemos (meu marido e eu) morar no interior é a maneira como a grande maioria das pessoas fala igual, age igual, se veste igual, escuta as mesmas músicas, compra as mesmas coisas... tudo bem, isso não é tão novo assim, a tal da cultura em massa, indústria cultural, ou qualquer nome que quiserem dar. Mas há um limite para a difusão: o limite que assegura a diversidade.

E vejam bem, não estou falando da simplicidade do povo, que limita alguns conceitos, até mesmo por limitar os horizontes de conhecimento. Estou falando da mania que as pessoas têm de cobrar dos outros um padrão de comportamento. 

Pessoas, eu adoro a diversidade. Acho interessante ouvir a cultura das pessoas, a sabedoria em diferentes áreas da vida. Mas eu realmente não tolero que as opiniões alheias me sejam impostas como modo de vida. E é esse um grande ponto negativo que tenho vivido aqui. Hoje eu penso duas vezes antes de fazer qualquer coisa (normal, mas que esteja fora dos padrões da cidade) para que não haja repercussão. Meu marido também faz a mesma coisa, pois qualquer deslize pode significar muita fofoca, chateações reais no nosso casamento (e até separação, pois o povo aumenta tudo), ou até divergências políticas fazendo com que não haja trabalho decente para nós na cidade por pelo menos 20 anos. É uma espécie de prisão, de ditadura, me lembra o filme "Mulheres Perfeitas", só que todo mundo tem que ser perfeito...rs. Acho realmente impressionante como ainda hoje, mesmo no interior, ainda haja este tipo de comportamento. Parece que é um vício: cuidar da vida alheia.

Nossa saída aqui é que vivemos meio isolados do resto da cidade, temos basicamente contato com as pessoas que trabalham aqui, mas são de fora, e nunca nos envolvemos em nenhuma fofoca. Claro, também somos muito claros e diretos quanto às coisas que fazemos por aqui, para que nunca um boato enorme nos pegue desprevenidos e acabemos brigando por nada.

Se vale a pena esta privação pelo que a cidade oferece de bom? Vale, e muito! Até porque, sinceramente, eu não faço questão de fazer social com ninguém... rs Mas esta é mesmo uma questão que, quando eu for professora aqui na cidade, terei prazer em começar a mudar, a trabalhar isso na sala de aula com os alunos, insistentemente. Mostrar que o tempo pode ser usado para coisas muito melhores e mais produtivas e que há coisas muitos mais interessantes para saber.

Mas eu me pergunto: será que este é um problema só do interior? Porque é claro que não vivia isso com a cidade inteira do RJ. Mas quantas vezes dentro da empresa em que se trabalha, as pessoas passam por coisas até muito piores?

É com pesar que acredito que isso é coisa de gente. Mas podemos escolher que não seja coisa da gente. :)

É isso.


13 comentários:

Gisley Scott disse...
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Gisley Scott disse...

Thaís, será que é mal de cidade pequena/interior? Cidades desse estilo me lembram muito os tempos feudais, onde os que tinham mais eram que mandavam e desmandavam no pedaço.

Onde eu morei[interior dos EUA], as coisas eram bem parecidas com o que vc está relatando nesse post. A vida das pessoas era terminar o ensino médio, arranjar um empreguinho no MacDonalds como caixa e pronto, estamos felizes!

Quando meu esposo foi chamado para trabalhar em Jax, muitas pessoas disseram que ele não precisava sair da cidade pq muita gente trabalhava em Jax e vivia em Starke.Fui até acusada de mandar no marido por querer mais pra ele. Eu sabia se a gente ficasse por lá, as pessoas sempre iriam jogar areia nos sonhos dele e nos meus tb.A cidade era muito pequena para aquilo que meu marido e eu queríamos realizar na vida.

Qto ao falar igual, vestir igual, muito comum tb.Elas "se repetem em série",criando panelas e para vc se socializar vc tem que provar que vc era bom suficiente para entrar na turma. Foi qdo eu vi que meus dias naquela cidade estavam contados, pq a imbecilidade alheia é algo que me irrita bastante.

Eu não vou fazer tipo para ninguém gostar de mim e qdo vc não faz o tipo, eles acham que vc é que tem um problema ao invés deles.Já faz 2 anos que deixamos aquela cidade.Sempre que voltamos, tudo é sempre igual,só que com a aparência de cidade fantasma.A fofoca não é nada além do velho pão e circo de Roma. Só que invés das pessoas serem jogados no Coliseu, as vida das pessoas em Starke são jogadas na boca do povo e atualizadas em tempo real. Lá, vc sabe em questões de minutos quem está traindo quem, quem deixou a família, que foi pra cadeia, que está se divorciando,que está se drogando, quem está se prostituindo, etc e tal.

As pessoas acham que Starke é todo os EUA e os EUA é definido por Starke.Pessoas de outros estados americanos e outros países não são "bem-vindas" por lá pq a gente não entra no molde.

Muitas vezes que voltamos para visitar, uma em específico me chocou bastante. Gente que era do nosso círculo de amizades mudou demais com a gente pq agora nós tínhamos o rótulo de Jacksonville[ e olha que Jacksonville nem é essas coisas todas não! Se for comparar com NY,Miami, Los Angeles, San Francisco,Washington DC, ela ainda tem muito o que desenvolver].

Coisas do tipo viajar, conhecer outros estados,falar outros idiomas, ir pra faculdade, fazer um mestrado, um doutorado, ir pra fora do país são consideradas perda de tempo e desnecessárias.

A vida só é uma pra ser medíocre assim.Jacksonville me lembra todas as razões pq eu me amo e amo ser brasileira.Não poderia ter feito uma escolha melhor.

Bjos!

CARLA STOPA disse...

Autêntico amiga...Abraço.

Carla Fernanda disse...

Acho que é o mal de pessoas que não têm o que fazer e no interior sobra tempo e as pessoas não o aproveitam com qualidade.
Beijos!!!!

Almir Albuquerque disse...

Eu penso que não é um problema só do interior mas de qualquer cidade rural ou urbana de porte médio pelo país afora, onde as pessoas mais ou menos se conhecem intimamente e têm suas tradições locais enraizadas. É o caso de Pindamonhangaba, por exemplo. Quem gosta de privacidade não deve se dar bem num lugar desses, onde as pessoas sempre querem saber para onde vão, de onde vem, com quem estão, o que fazem, etc.

Neste ponto a cidade grande tem sua vantagem. Você é apenas mais um na imensa multidão, e ninguém se choca com um comportamento mais subversivo, e as diversidades afloram mais naturalmente. Embora a cidade grande sim, seja a fonte da cultura de massas, ela absorve todos os comportamentos, seja você um punk, um metaleiro, um nerd, um mauricinho, um emo, ou seja lá o que for.

São escolhas que fazemos na vida e acho que vocês fizeram a de vocês, e apesar desses detalhes, não estão arrependidos, pelo que disse.

Grande beijo,
Almir Ferreira
Rama na Vimana

Luna Sanchez disse...

Os metidos a donos da verdade são tediosos, sim, minha paciência também não os alcança, Thaís.

Um beijo.

Sandro Ataliba disse...

Bom é nosso mundo, que é perfeito. Basta fechar a porta e tudo se resolve. Somos os três habitantes mais felizes de nosso planeta.

O resto é só desejar que cada um cuide de sua vida, e que tenha uma vida diferente.

Amo!

Aline Teodosio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline Teodosio disse...

Oi Thaís!!!
É certo que esse tipo de coisa no interios é bem mais acentuada. Uma amiga minha passou em um concurso e foi morar num interior, levando os mesmos hábitos que cultivava aqui. Resultado: todo mundo falava dela, pq ela naum agia como ninguém de lá.
Todavia, como vc mesma falou, isso é coisa de gente. Nas cidades grandes, nas empresas, escolas, universidades tbm ocorre a mesma coisa. É um tal de louvor à padronização que vou te contar, um saco!
Enfim, isso não faz parte da minha vida e acho q sou bem mais feliz assim!
Bjus, lindona!

Anônimo disse...

eita
tbm tenho essas mesmas manias
são dificeis
bjos

Unknown disse...

Julgar o próximo é necessidade de quem não tem nada mais interessante pra fazer... ainda bem que nós temos, como visitar seu blog rsrs
Abraço

Indd. disse...

Bem, eu moro em uma cidade de interior e imagino como deve estar sendo demasiada o tamanho de sua indignação. Para mim, que sempre morei aqui, ainda é bem difícil aceitar que os outros estejam constantemente querendo cuidar da vida alheia, imagino para você.
Mas, não se preocupa não que com o tempo.. Piora. hahaha..
É sempre assim!

=]
bj,bj

Camila Monteiro disse...

Olá Thaís, saudades dessas palavras tão cheias de personalidade. Concordo, vivo no interior tb.
Não isso não é exclusivo de cidades mais isoladas e sim de pessoas que tem pouca coisa pra fazer, isso sim é exclusividade de cidade pequena.
Excelente texto, concordo com tudo. bjos!