terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vamos globalizar o conhecimento?

Texto inspirado no polêmico post do meu marido: O Que É Ser Americanizado?

O que faz alguém ser americanizado? Por que gosta das coisas de qualidade que vêm de lá? Esta noção exaltada de pátria tem o seu valor na hora de fazer política externa, na hora de crescer economicamente, mas não cabe na arte, no esporte... As pessoas confundem conhecer e apreciar as boas coisas da vida (no mundo todo), como uma espécie de renegação da cultura brasileira. E é com isto que eu não concordo.

Afinal, o que é a cultura brasileira, se não uma mistura de tantas outras? Por aqui estiveram portugueses, franceses, africanos, holandeses, franceses, italianos, todos deixando sua contribuição, sua marca, se misturando aos nativos indígenas. Assim fomos criando a nossa cultura, esta miscigenação. Na religião, por exemplo... os mesmos que batem no peito para dizer que o Brasil é um país católico, se esquecem que o país foi catequizado por Portugal. Os baianos que tanto prezam e defendem sua religião como parte da herança e cultura nacional, têm que se lembrar que foram os africanos que trouxeram e passaram a religião de maneira disfarçada para fingir adorar os santos católicos e não serem castigados pelos portugueses. A religião indígena do Daime, se misturou com a religião africana e com o catolicismo de tal maneira, que hoje as práticas têm um pouquinho das três, fazendo com que sequer a religião dos nativos brasileiros tenha saído imune desta mistura. Os evangélicos, muitas vezes não se lembram que graças a Lutero, um alemão, aconteceu a reforma protestante. E inclusive, hoje o país mais ativo no mundo como protestante, é o Estados Unidos.

As pessoas, antes de começarem a criticar, têm que entender que somos resultado de tantos processos, de tantas culturas diferentes. Que estamos buscando identidade, criando identidade ao longo dos anos. É claro que é importante preservarmos nossas raízes, nossa memória, mas isso não quer dizer nos fecharmos para o resto do mundo. O que é isso, exílio socio-cultural? Eu tenho muito orgulho de conhecer a história e a música portuguesa, de conhecer a cultura e a música francesa, de sonhar com uma visita à Itália, de odiar o modo de vida americano, mas por conhecê-lo, através de séries e filmes de qualidade que eles fazem (e ainda como ninguém). Tenho orgulho de apreciar o cinema europeu, assim como também aprecio o cinema brasileiro quando faz bons filmes (e nos últimos anos tem melhorado demais). Tenho orgulho quando escuto uma música da Elis ou do Chico num filme do Almodóvar, quando escuto uma Bossa Nova num filme americano (sim, eles amam!), ou quando vejo uma cantora respeitada em toda a Europa, como a Dulce Pontes, gravar música brasileira. E quase morro de orgulho, quando escuto TODOS os meus amigos estrangeiros dizendo que Los Hermanos é (ou foi) a melhor banda dos últimos tempos no mundo.

Quanto ao esporte... Baseball é bom sim, Futebol Americano, melhor, e as pessoas criticam sem ao menos conhecer. Sou culpada por apreciar? Tá, e o Brasil... o Brasil tem o futebol arte, indiscutível. Mas o Campeonato Brasileiro... de arte só tem drama e comédia! Alguém pode me culpar por preferir assistir o Campeonato Europeu? Assim como não é engraçado, um país onde os candidatos à presidência, têm que se retratar com a igreja caso falem algo contra seus princípios. Peraí!!! Vamos elogiar e manter aquilo que merece, e criticar, mudar, e, por que não, copiar de exemplos melhores quando necessário?

Como sempre, o ser humano está preso a rótulos. Eu aprecio a beleza e a qualidade. Seja ela de qual nacionalidade for. E abomino o que é feio e de mau gosto, seja também de qual nacionalidade for. Somos todos seres humanos, fazendo arte, lutando, trabalhando, criando... Os limites políticos e territoriais apenas delimitam práticas e modos de vida diferentes, devido muitas vezes às próprias condições climáticas, geográficas e econômicas. Mas no fim, somos todos iguais. E todos merecemos sermos ouvidos, respeitados, apreciados. 

5 comentários:

Anล Kลtเล disse...

Eu sou paulistana mas tenho amigos na Bahia, em Natal, no Rio, minha irmã mora em Goiás... Somos todos iguais e vc deve ter visto a briga entre paulistas e nordestinos. Como eu detesto pessoas q se acham melhores q as outras por nascerem em lugares diferentes, terem crenças diferentes, torcerem por times diferentes, etc...
Eu sou católica mas não acredito q quem não é está longe de Deus. Pelo contrário, já fui vítima de católico q fez escândalo ao invés de me acolher e por besteira ainda... Continuo acreditando em Deus, não nos homens e cada um tem sua experiência pessoal com Ele. Tem muitos "não católicos" q transmitem mais a presença de Deus do q os católicos.
E por aí vai!
Bjo...

Anônimo disse...

"As pessoas, antes de começarem a criticar, têm que entender que somos resultado de tantos processos, de tantas culturas diferentes." Claro!
Não só nós, brasileiros, como TODOS DE TODO O MUNDO! Cultura nada mais é do que transição entre práticas sociológicas a partir do momento que temos expansão de povos. Afinal, de onde veio o macarrão italiano? Da china! De onde veio parte das religiões afircanas? Do oriente médio! Tenho váááários exemplos que eu poderia usar aqui pra deixar quem ler de boca aberta. O fato é que o mundo não é constituído de bolhas nas quais as pessoas se trancam. O mundo é um eterno processo. Beijo!!

Sandro Ataliba disse...

Nossos posts se completam, assim como nós nos completamos. Acho ótimo o fato de termos o mesmo ponto de vista, mesmo com pequenas diferenças.
Amo!

Unknown disse...

Ah, olha, como tô numa fase muito "é o que eu penso, vai bater?", digo mais: Qual o problema de não se identificar com a cultura do lugar onde se nasceu? A Internet e suas redes sociais não seriam o sucesso q são se não existisse essa sede por conhecimento de outras culturas e até mesmo um certo sentimento de negação pela sua própria! AMO o Brasil, mas me identifico muito pouco com a cultura daqui, talvez, justamente por essa miscigenação. Sem falar que "americanizado" é tão anos 1970! Virou um clichê de burrice. Dia desses eu falei: "Trocaria convite pra desfilar em Escola de Samba pela oportunidade de conhecer O Castelo de Neuschwanstein..." Aí um amigo disse: "Ah, vc é tão americanizado, Caesar!" E eu respondi: "O castelo fica na Alemanha!" Acho o nacionalismo um sentimento lindo, mas por aqui, bastante discutível. Te acusam se vc não gosta de futebol, mas senta pra conversar sobre política, corrupção e educação... Rapidinho aparece alguém pra dizer: "Ai, esquece isso! Vamos tomar uma cervejinha..."

Anônimo disse...

Eu odeio os EUA. Obrigado :) ahahhahahahahahahahahaha

Sacanagem, não odeio não!

Ou melhor, odeio sim!

Ah vai saber :o)

Beijos!